ESPAÇO LITERÁRIO:

O angu poético de Oswald de Andrade

Luiz Henrique Gurgel

 

Exportar poesia. Poesia Pau-Brasil. No dia 18 de março de 1924, Oswald de Andrade, um dos mentores do modernismo brasileiro, lança no jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, o Manifesto Pau-Brasil, ideário daquilo que o escritor entendia por poesia brasileira.

A poesia existe nos fatos, diz o manifesto. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.

O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica.

Tal como aquela madeira, nosso primeiro produto de exportação e primeiro sinal de existência do Brasil para o mundo, Oswald propõe sinalizar o país com uma poesia renovadora, solta dos modelos poéticos importados do século 19, capaz de captar nossa originalidade nativa: a língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.

Ele embaralhava e confundia as noções de nacional e cosmopolita, primitivo e moderno, vanguarda e tradição:

Temos a base dupla presente – a floresta e a escola. (...)
Um misto de “dorme nenê que o bicho vem pegá” e de equações. (...)
Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar.

Monteiro Lobato chamou isso de “processo de atrapalhação”. Para ele, Oswald fazia um “angu completo dos valores e regras universalmente aceitas”.
Oswald não exigia fórmulas estéticas para nossa poesia, só propunha uma poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. Não se trata de nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. É apenas ver com olhos livres.

O manifesto chacoalhou a literatura brasileira.

Para quem quiser ler a íntegra do Manifesto da Poesia Pau-Brasil  e do Manifesto Antropófago, também de Oswald de Andrade, acesse:

https://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf