OS NINHOS DÃO SORTE

 

Mandei refazer o telheiro contíguo à Casa do Forno e volto pois a ter o meu espaço preenchido com a parafernália das construções. Que vai dos carrinhos de mão, andaimes, tabuões, betoneira, às múltiplas ferramentas das inúmeras operações construtivas. E tudo isso, claro, decorado com o cinzento grumoso dos cimentos intemporais.

 

Acordei cedinho com o matraquer da betoneira e com as salvas da marreta. Voltei-me para o outro lado a adormecer e a envolver-me num sonho que ao acordar descobri ser verdadeiro. Isto é: um sonho em que os elementos da composição narrativa não foram apenas simbólicos e típicos das operações de desvio e condensação que são próprios do trabalho onírico.

 

Vi que recuava vinte anos aos dias do início da casa, ao descampado, aos lagartos, aos pássaros, ao estrugido das vozes e dos ruídos da construção. Vi-me de novo no meio do labirinto de muros de tijolo vermelho, ainda informes, pelos quais a casa se delineava. Num desses corredores, mal ajeitado num buraco da parede, vi também que havia um ninho e percebi que os pedreiros tinham atrasado a construção nesse lugar. Porquê? Porque os ninhos dão sorte, responderam-me.

 

Publicada por Antonio